terça-feira, 30 de setembro de 2008

Teoria Psicopedagógica; Epistemologia Convergente; Jorge VISCA


EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE DE JORGE VISCA:
A Psicopedagogia; a Caixa de Trabalho Psicopedagógico...

Hiran PinelPaulo Roque Colodete

A Epistemologia Convergente foi criada por JORGE VISCA (1935-2000) – remonado psicopedagogo argentido. Quem foi Jorge Visca?Jorge Pedro Luiz Visca nasceu em Baradero, província de Buenos Aires, em 14 de maio de 1935. Cursou o bacharelado no Colegio Nacional de San Pedro, Província de Buenos Aires e o magistério na Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta da Capital Federal. Graduou-se em Ciências da Educação em 1966, na Facultad de Filosofia Y Letras da Universidad Nacional de Buenos Aires. Foi psicólogo social, formado na Escuela Privada de Enrique Pichon Rivière, em 1971.Fundou os Centros de Estudos Psicopedagógicos de Buenos Aires, de Misiones, do Rio de Janeiro, de Curitiba, de São Paulo e de Salvador.Realizou numerosas publicações em seu país e no estrangeiro e participou de congressos internacionais representando a Argentina. Foi membro de jurados para eleição de docentes nas Universidades de Buenos Aires, Lomas de Zamora e Comahue.Foi membro do corpo editor de: Aprendizaje Hoy (Argentina) e Publicações especializadas de Brasil: revista Brasileira de Pesquisa em Psicologia, Revista Psicologia – USP e Revista Grupal da Federação Latinoamericana de Psicoterapia Analítica de Grupo.Trabalhou como consultor e assessor na formação de profissionais em diversos Centros de Estudos Psicopedagógicos, em universidades no Brasil e na Argentina.Publicou seu primeiro livro - Clínica psicopedagógica - em 1985, traduzido para o português em 1987.Criador da Epistemologia Convergente linha que propõe um trabalho clínico utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Escola de Genebra (Psicogenética de Piaget), Escola Psicanalítica (Freud) e Psicologia Social (Enrique Pichon Rivière).Ele esteve em Vitória (ES), na clínica de Maria de Fátima Aleixo. Eu participei do curso, tendo Visca mostrado toda a sua magia.Faleceu em 2000.Essa abordagem trabalha com a Psicanálise (o conceito, por exemplo de: transferência e contra-transferência; resistência etc.); a Epistemologia Genética de Jean Piaget (exame clínico de Piaget; raciocínio clínico; etapas universais de idade cronológica; a compreensão do erro etc.) e a Psicologia Social de E. Pichón-Rivière (aprendizagem centrada na tarefa; grupos operativos).É uma das abordagens mais modernas da Psicopedagogia, e que fornece muitos subsídios para o trabalho e construção social e historica da identidade profissional.· EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE IA Epistemologia Convergente – a que faz convergir três abordagens conhecidas – apresenta uma dimensãio clássica de clínica, propondo diagnóstico, tratamento corretor, prevenção etc.Entretanto, esse psicopedagogo argentino bastante clínico do ponto de vista tradicional, é capaz da seguinte aformativa: "... justamente, eu acho que aprendizagem, para uma pessoa, abre o caminho da vida, do mundo, das possibilidades de ser feliz" (in Chardelli, 2000; p. 1).Em Visca compreendemos que a aprendizagem depende das seguintes estruturas: a cognitiva/afetiva/social. As problemáticas de aprendizagem está indissociavelmente ligadas a alguns aspectos desse três fatores – sempre compreendidos de modo interdinâmico.Para Visca, a inteligência vai se construindo a partir da interação do sujeito e as circunstâncias do meio social (in Sampaio, 2004; p. 1).A vida em sociedade é vital para a construção do conhecimento. Assim, para aprender a pensar socialmente é imprescindível a orientação do professor e o contato dos educando com outros de si – é bom lembrar o valor dado por Vigotski a mistura de alunos/ a de todas as idades, e a riqueza de aprendizagens daí advindas. A tarefa do mestre aí se inscreve como facilitador, e não um direcionador. É preciso não fornecer receitas e regras prontas. É preciso ensinar numa didática que valorize a arte e ciência de pensar/ refletir sobre os conteúdos propostos na sala de aula e vividos dentro e fora dela.Visca, como vimos, reportava-se muito a Piaget e sua Epistemologia Genética.Piaget – como já vimos - dividiu o desenvolvimento humano em quatro etapas universais, que não são “queimadas”, mas vividas de acordo cada sujeito:1. Estádio da inteligência sensório motora (até os dois anos). 2. Estádio da inteligência simbólica ou pré-operatória (de 2 a 7-8 anos). 3. Estádio da inteligência operatória concreta (de 7-8 anos a 11-12 anos). 4. Estádio da inteligência operatória formal (a partir de 12 anos, com patamar de equilíbrio por volta dos 14-15 anos).De acordo com Visca (1991):No primeiro nível que corresponde a inteligência sensório-motora, as ações da criança não tem representação, ou seja, não representa para si mesma o ato do pensamento, há apenas uma mera ação motriz;No segundo nível que corresponde ao da inteligência pré-operatória já existe uma representação ou simbolização. Há claramente uma distinção entre o significante (conduta de imitação, desenho, imagem mental, jogo, palavra) e o significado (situação evocada, objeto representado). Porém o pensamento deste nível não pode organizar os objetos e acontecimentos em categorias lógicas gerais;No terceiro nível que corresponde à inteligência operatória concreta, o pensamento da criança torna-se reversível podendo realizar a operação inversa no pensamento, concluindo que mesmo mudando a forma da massa de bolinha para salsicha percebe que essa transformação não modificou a quantidade do objeto.No quarto nível que corresponde à inteligência formal ou hipotético-dedutiva, o pensamento torna-se independente do concreto, é um pensamento abstrato.A partir deste estudo de Jean-Piaget são aplicadas, no diagnóstico, as provas operatórias – exames clínicos de Piaget - para verificar o nível cognitivo em que o sujeito se encontra , pois segundo Visca “... ninguém pode aprender acima do nível da estrutura cognitiva que possui” (1991, p. 52).O desenvolvimento cognitivo que implica uma boa aprendizagem não se respalda apenas no aspecto cognitivo.Na Epistemologia Convergente os fatores afetivos e sociais possuem uma grande influência no desenvolvimento/ aprendizagem do ser humano. Por isso a ligação de Visca com S. Freud, Piaget e Psicologia Social de Enrique.A Psicanálise revela a importante das relações afetivas, dos vínculos – bons ou maus – estabelecidos pelo aluno estando ele diante do objeto de aprendizagem.Essas relações – na prórpia vida vivida – se mostram nos mais diferentes e diferenciados tons: ora fortes, ora fracos; ora de difícil compreensão e apreensão etc.Esses vínculos são universais – são a-históricos: refere-se às situações vividas pelo sujeito na fase atual em que se encontra.Como diz Sampaio (2004) existem crianças que possuem o mesmo nível cognitivo, porém apresentam tematizações completamente distintas.Segundo Jorge Visca (in Sampaio, 2004; p. 1) “cada contexto oferece diferentes crenças, conhecimentos, atitudes e habilidades”.· EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE IITodo este tópico e os próximos – caixa de trabalho ; será escrito fundamentando-se em Barbosa (2004), e por ser informações reveladas de modo muito didático – e aí está o valor da produção dessa pedagoga e psicopedagoga brasileira – transcrevemos na maioria das vezs, e ao assim procedermos, o fizemos dentro das normas – entre aspas.Barbosa (2004) estudou também a Epistemologia Convergente .A Epistemologia Convergente caracteriza-se por ser uma visão integradora do conhecimento.Esse processo se inicia a partir do momento em que cientistas abriram-se a outros modos de pensar / sentir / agir o processo ensino-aprendizagem.Uma abertura opõe-se ao preconceito e à arrogância, impondo humildade de compreender o processo ensino / aprendizagem como um lugar de integração de diferentes modos de abordar o fenômeno da escolaridade e de suas complicações.Na Epistemologia Convergente estuda-se a aprendizagem e seus problemas a partir de três vetores: Psicogenética em Jean Piaget ; o afeto em S. Freud e os vínculos sociais em Enrique Pichon-Rivière.A partir desse interesse, Visca construiu uma proposta de diagnostico e sua correspondente de processo interventor ou corretor.A Epistemologia Convergente – nesse contexto – pode ser compreendida como um aporte teórico/ prático a visão que pode superar as teorias inatistas – a aprendizagem depende do organismo; e estando livre e solto, a pessoa aprende, com ou sem professor ou educação - e ambientalistas – o ambiente é que molda e controla o sujeito, não tendo ele nenhuma história, tábula rasa que é.Dentre os pe nsadores inatistas na educação podemos citar Arnold Gessel e a maioria dos teóricos da Psicologia Motora ou Psicomotricidade assim como os da Neuropsicologia; e dentre os ambientalistas, Skinner, Bloom, Mager, Watson. Entretanto essas classificações nunca são perfeitas, devido ao diferentes momentos sociais e historicos dos cientistas e dos cientistas que os (re)leiam, assim pode haver classificação que insira Sigmund Freud como inatista .A Epistemologia Convergente tem uma perspectiva que integra três teorias, posssibilitando ao professor/pedagogo/psicólogo pensar/refletir sobre as mais diversas “causas” dos problemas que emergem e aparecem no decurso da aprendizagem e do ensino. Visca fala de múltiplas causas, “(...) cada uma delas estudada e aprofundada por uma determinada vertente” (Barbosa, 2004; p. 1).O processo corretor ou a intervenção proposta por Visca, acontece de modo clássico: após o processo diagnóstico. Mas por que ele utiliza o termo Processo Corretor? Que estranho nome? Corrigir?“(...) denomina-se Processo Corretor por ser um caminho que supõe um constante “devenir” e por conceber a busca do correto a partir da relação entre o aprendiz e o agente corretor. É da cooperação entre ambos que nasce a possibilidade de superação das dificuldades. Processo é o transcurso do que vai sucedendo e é uma característica de toda coisa de estar a cada instante de uma forma distinta da anterior. (...) Por outro lado, temos o termo corretor que é formado por “co” e “reger”, sendo o primeiro elemento – co – uma forma prefixal latina da preposição com, e o segundo – reger – , a ação do correto funcionamento de um aparelho ou organismo (Barbosa, 2004; p. 1).A intervenção é realizada por uma unidade funcional: um ajudador, um ajudado e uma relação que se estabelece ai, entre ele, neles mesmos, penetrando-os e os marcando.Mas com qual objetivo se estabelece essa relação?O objetivo de realizar operações que estabilizem condutas e promovam desenvolvimento.Prosseguindo com o raciocínio viscaneano, Barbosa (2004) afirma que no processo de ajuda, o ajudador – Visca explicita o psicopedagogo, pois ele é um e trabalha para dentro do contexto argentino - utiliza-se de recursos de intervenção.Esses recurso são instrumentos verbais ou corporais para que o aprendiz/ ajudado apreenda ou perceba a pertinência ou não de sua ação, provocando no sujeito um desequilíbrio ótimo, capaz de mobilizá-lo para a busca do equilíbrio e, conseqüentemente, da aprendizagem.Eis os recursos ou instrumentos que podem ser utilizados pelo professor/pedagogo/psicólogo/especialista em Psicopedagogia: informação; mostra; modelo de alternativas múltiplas; mudança de situação; acréscimo de modelo; explicação intrapsíquica; assinalamento; desempenho de papéis; interpretação;Barbosa (2004) acrescenta outros recursos: vivência do conflito; problematização; destaque do comportamento.Pinel e Colodete (2000) destacam a importância da escuta clínica (2004) e sensvel (Barbier, s/d). Pinel (1989) destaca a importancia do estabelecimento de um clima empático, aceitativo e honesto, marcado pela sintonia, atendimento, personalização e orientação – diretiva e não diretiva.· CAIXA DE TRABALHO (RE)CRIADA POR VISCAVisca (in Barbosa, 2004) sugere uma forma de atendimento psicopedagógico denominada de Caixa de Trabalho – idealizada e publicado em 1987.Essa “caixa” serve para que o ajudador trabalhe os problemas de aprendizagem ou dificuldades psicopedagógicas.Virginia Axline em “ Ludoterapia ” – tratamento de problemas psicológicos atrabés do brinquedo, das brincadeiras etc. - e no estudo de caso “Dibs's: Em busca de si mesmo” relata uma caixa que levava consigo, uma espécie de mala contendo denbtro alguyns brinquedos. Através dos brinquedos as crianças se projetam, se mostram tais quais são – seu eu mais profundo.A Psicanálise de Melaine Klein – que também trabalhava com uma caixa dessas – falaria do inconsciente.Colodete (2004) ao atender Ingridi – “O que fazer depois da tempestade: ...” – inventou uma “ Bolsa Mágica ”, capaz de provocar a menina a revelar-se quem é e o como ela ia sendo estando vivenciando uma relação afetiva de qualidade.“(...) a caixa [na Psicanálise] é composta por brinquedos e materiais escolhidos para representarem o mundo interno da criança, suas fantasias inconscientes frente ao mundo” (Barbosa, 2004; p.1).Já a Caixa de Trabalho é para o trabalho do psicopedagogo. Ela traz dentro materiais que possibilitem a vivência do aprender para a criança ou para o adolescente.Continua Barbosa (2004) a dizer que a “Caixa de Trabalho ” é metafóricamente considerada como um continente, no qual a criança poderá depositar seus conteúdos de saber e de não saber.Esta caixa deve conter materiais que são escolhidos previamente, considerando a leitura que o ajudador fizer do educando/ orientando durante a avaliação psicopedagógica.A psicanalista – esposa de Pchon-Rivière – Arminda Aberastury (1982) denomina de “símbolo” da receptividade do terapeuta e do consultório.Ela estabelece ou ajuda a emergir ali no setting clínico o rapport.Essa qualidade relacional deve ser mantida sempre, pelo cuidado com a caixa, pela privacidade que ela representa e pelos combinados que vão preceder e acompanhar o seu uso.A caixa de trabalho é uma propriedade temporária – no instante do tratamento – do educando. Também nela contém objetos que foram especialmente escolhidos. Tem elementos capazes de promover, se forem bem mediados pelo terapeuta, a superação ou a minimização das dificuldades de aprendizagem.A caixa deve representar “(...) o mundo interno do aprendiz e, portanto, deve ser manejada apenas pelo seu dono, sem sofrer ameaças de ser invadida ou espiada por terceiros (Barbosa, 2004; p. 1).Que mundo interno é esse?Visca, sob o impacto da voz de Barbosa (2004), responde que o mundo interno de um aprendiz há conhecimentos já dominados, medos de conhecer o novo, medos da crítica, facilidades para se apropriar de determinados conhecimentos, dificuldades frente a outros, medos de perder os conhecimentos já dominados, sensibilidades e insensibilidades etc.Em fim, como Vigotski pontua: a criança comparece com uma aprendizagem, uma Zona de Desenvolvimento Real.Os objetos a serem colocados na caixa de trabalho serão objetos que representarão estes aspectos do seu mundo interno ou que receberão projeções para que passem a representá-los.Nesse ponto vale a pena assinalar a visão psicanalítica de Jorge Visca.Como construir essa caixa ?A organização de uma Caixa de Trabalho está estreitamente ligada aos resultados da avaliação diagnóstica psicopedagógica.Será pois a avaliação do real da criança, que subsidiará a construção (que materiais colocar dentro dela) dessa caixa.Os objetos especialmente selecionados deverão considerar e respeitar aspectos tais como: idade cronológica e idade de desenvolvimento; interesses; características sócio-culturais; sexo; facilidades e dificuldades; funcionamento para aprender e diferenças funcionais; nível de apropriação da linguagem escrita; vínculos afetivos estabelecidos com as situações de aprendizagem.Barbosa cita um exemplo:“(...) se temos um menino de dez anos, que apresenta um desempenho cognitivo para sete anos, sua caixa deve ter pelo menos um jogo e um livro de literatura infantil que sejam próprios para um menino de sete anos, além de outros que atendam necessidades de um menino de dez anos; mesmo com um rebaixamento cognitivo, a criança pode manter os interesses de sua idade cronológica” (p. 1).· O diagnóstico pode se utilizar da caixa ?Prossegue Barbosa (2204) dizendo o funcionamento do aprender impõe considerações acerca do fazer: se o educando apresenta o predomínio da assimilação - ou seja, aproxima-se mais de situações lúdicas, as aprendizagens são buscadas quando assemelhadas aos seus esquemas de aprendizagem, demonstrando pequeno movimento de acomodação - sua caixa deve conter apenas um material não estruturado e mais materiais estruturados.Os materiais não estruturado - tinta, argila, peças para montar e outros - são passíveis de serem moldados de acordo com o desejo do sujeito aprendiz.Aqui o sujeito já é afeito a fazer as coisas do seu jeito, fazendo poucas mudanças nos esquemas já existentes. Ao colocarmos um material não estruturado em sua Caixa de Trabalho , estamos colocando algo que vai possibilitar sua identificação com a caixa; porém, se colocarmos muitos materiais com esta característica, estaremos aprontando uma armadilha para o aluno/ aprendiz, pois ele ficará tão preso a esse tipo de material que não conseguirá experimentar a mudança da qual necessita para superar suas dificuldades de aprendizagem.O excesso de materiais não estruturados para este tipo de orientando representa o excesso de recursos distratores – que produzem distração - dificultando sua concentração e sua busca em direção ao movimento de acomodação, que o obriga a modificar os esquemas de aprendizagem já existentes. Nestes casos, os materiais estruturados ou semi-estruturados - cadernos, livros, jogos com regras, modelos, receitas- são muito pertinentes, pois convidam o aprendiz a experimentar o jeito sugerido pelo outro, a modificar seus esquemas, a olhar de um outro ponto de vista etc.Para aqueles que apresentam o predomínio da acomodação - que estão sempre modificando seus esquemas em função da interação com o mundo , que o fazem de forma excessiva ao ponto de se aproximarem da imitação e não da criação - prossegue Barbosa (2004), os materiais pouco estruturados ou não estruturados são necessários em maior quantidade. Esse tipo de material deve existir apenas um, para servir de ponto de partida; porém, estes sujeitos necessitam poder fazer coisas sem seguir modelos, sem modificar seus esquemas de aprendizagem, necessitam flexibilizar.Além do nível cognitivo e do funcionamento para aprender, é importante que respeitemos os vínculos que as crianças apresentam com as situações de aprendizagem, diz Barbosa (2004).Se o vínculo é dependente e obstaculizador, é importante colocarmos mais convites à autonomia . Vínculo persecutório , colocarmos mais elementos capazes de serem integrados. Vínculo integrado, colocarmos elementos novos, que chamem para novas confusões e desequilíbrios saudáveis, que tragam o novo para ampliar o já conhecido.Uma Caixa de Trabalho deve ter materiais básicos que servem de apoio ao orientando / aluno: papéis, lápis, apontador, borracha, régua etc.Conforme a necessidade apontada pela avaliação , esta lista pode ser ampliada: cola, tesoura, caneta hidrocor, revistas para recortar, cadernos e outros.Deverá, ainda, conter os materiais de aprendizagem: materiais não estruturados - argila, tinta, massa de modelar etc.; materiais semi-estruturados - peças de encaixe, miniaturas, blocos etc.; materiais estruturados - jogos com regras, jogos com modelos, livros, revistas etc.A Caixa de Trabalho é individual, personalizada. É organizada - levando-se em conta as dificuldades, facilidades e necessidades do educando.· O ENQUADRAMENTO é uma palavra utilizada por Pichon-Rivière – criador do Grupos Operativos – GO.ENQUADRAR significa a possibilidade de pensar/ sentir/ agir um contrato, de organizar um combinado, para podermos ter claro quando é possível cumpri-lo ou não e para podermos avaliar o porquê das possibilidades e das impossibilidades.Estamos a falar de um contrato clínico psicopedagógico – escrito ou não. Fazemos um “contrato” – tempo de duração do atendimento em consultório de psicopedagogia em salas de resursos de escolas públicas, por exemplo.Falamos de Psicopedagogia Clínica Aplicada as Salas de Recursos de Escola Públicas .O enquadramento faz permanecer constantes alguns elementos para que outros possam movimentar-se e serem percebidos a partir de uma referência.Visca (1987) sugere trabalhar – nos enquadres - com constantes de tempo, espaço, tarefa, honorários, para que o movimento do aprendiz, em relação a estas constantes, possa ser observado e para que o terapeuta possa ter parâmetros de ação, sugerindo a superação da dificuldade.Barbosa (2004) cita um exemplo: se as sessões acontecem sempre no mesmo espaço e sempre a criança reclama para entrar, no dia em que entrar sem reclamar, ela estará dando nova dica sobre a relação do seu movimento com aquele espaço constante.Podemos entender, neste caso, que a criança venceu seu medo da novidade, já internalizou o espaço e já pode entrar em contato com outras novidades.Se o espaço não fosse constante, se cada vez ela fosse para uma sala diferente, certamente não teríamos a mesma segurança de análise frente às suas reações.Quando tudo se movimenta, fica mais difícil de perceber a aprendizagem .Com este objetivo, VISCA (1987) considerou a Caixa de Trabalho como a tarefa a ser oferecida ao orientando/ educando/ aprendiz, tendo a característica de ser uma constante do enquadramento.Após montada, a caixa será sempre a mesma. Ela “aguardará” a criança, colocada e ficando sempre sempre no mesmo lugar. Ela oferecerá a cada encontro a mesma gama de possibilidades de ação. Entretanto, cada vez o aprendiz/ aprendente poderá abordar o material de forma distinta, ou não – a escolha é dele.Se o aprendiz, em todos os encontros, repete-se pega uma folha de papel e faz o mesmo desenho, ou escreve a mesma coisa anterior, podemos arriscar/ sugerir dizendo que ele está preso ao conhecido e teme enfrentar novas situações. Isso é uma interpretação por inferência e referendada numa sensibilidade clínico psicanalítica. Então daí podemos mobilizar o aprendente outra vez.Se num mesmo encontro, ele entra em contato com tudo o que há na caixa e não realiza nada , podemos mostrar que está funcionando de uma forma não produtiva , e assim por diante.A Caixa de Trabalho como constante do enquadramento só pode sofrer modificações com novos combinados - novos contratos na revisão de contrato terapêutico. Materiais podem ser retirados ou colocados, desde que se tenha um objetivo muito claro para esta mudança e prefencialmente em concordância com o aprendente e ensinante.É comum crianças e adolescentes quererem trazer objetos de casa ou levar objetos da caixa para casa. Isto só pode acontecer se fizer parte de um combinado/ contrato entre aprendente e o psicopedagogo ou educador especial de sala de recursos.Este ato sentido – contribuindo para a aprendizagem ou para a minimização da dificuldade de aprendizagem- será válido. Deve sempre ocorrer clareza dos objetivos desta ação sempre sentida.Seguindo os mesmos critérios, poderá também haver reposição de materiais.Se uma criança gasta toda a sua cola numa tarefa de recorte e colagem, a reposição deverá ser realizada dependendo da consciência que ela possui em relação aos limites e ao seu descontrole frente aos limites. Dependerá do combinado anterior, o que foi estabelecido no contrato. Dependendo de outros fatores que estão relacionados com suas dificuldades – escolares,emocionais etc. Uma reposição sem critérios poderá não ajudar na evolução da criança ou do adolescente, transformando sua desorganização maior, pois o ensinante também necessita organizar-se.E quando desejamos colocar na caixa um ou mais material que não foi planejado. Ocorrer isso, novas combinações devem aparecer produzindo sentido.O aprendente e o educador da sala de recursos – que trabalha aplicando a ela conhecimentos de Psicopedagogia Clínica - irão democráticamente juntos analisar tal necessidade e, conforme o caso, o acréscimo será realizado ou não.Uma vez, disse Barbosa (2004)“( ...) um cliente me disse que queria um brinquedo eletrônico em sua caixa e que ele me pagava para isto. Conversamos sobre a pertinência de um brinquedo eletrônico para sua aprendizagem e sobre a autoridade financeira; o pedido não foi aceito, embora seu desejo continuasse o mesmo. (...) Alguns profissionais utilizam cadeados nas caixas que oferecem aos clientes, para que eles tenham certeza de sua propriedade e privacidade. Esta segurança, no entanto, não se encontra na tranca, mas na atitude do terapeuta, que mantém os combinados” (p. 1).· Como Jorge Visca propõe o uso da caixa no tratamento ou processo corretor?Prossegue Barbosa (2004) dizendo que após montada, a caixa passa a ser daquele determinado aprendente / aprendiz / cliente. Ele mesmo é quem a personaliza e organiza com os materiais escolhidos pelo psicopedagogo, para atender às suas necessidades.É pois um procedimento caro se aplicado em escolas públicas, junto a alunos empobrecidos pelo Estado marginalizador. Entretanto, algum educador de escola pública, que deseje trabalhar com a caixa, poderá inventar táticas – como diz Certeau (1996) – de enfrentamento, inventando possibilidades. Fico a pensar em um “cantinho” de um armário – do tipo escaninho – que tem a porta fechada.Outras vezes, penso em uma caixa de papelão que o aluno e seus pais podem trazer de uma loja – onde irão pedir para o nosso trabalho. O psicopedagogo poderá entrar em contato. Essa experiência em fiz uma vez na Escola Terfina Rocha Ferreira, localizada no Bairro Itacibá, cidade de Cariacica, ES. Atendi, para um estágio em Orientação Educacional, cinco alunos apenas. Mas deu certo.No primeiro encontro, prossegue Barbosa (2004), a caixa estará vazia , e os materiais em sacolinhas de plástico, indicando, desta forma, a sua neutralidade. Este material ainda não foi utilizado por ninguém; portanto, ainda não tem história e vai, a partir deste momento, ter um dono e fazer parte da história dele.O aprendente organiza a caixa como desejar e poderá personalizá-la , usando uma etiqueta , realizando um desenho, colagem, pintura ou qualquer outra forma que quiser e para a qual tenha o material. É pois identificada de quem é a caixa – e o aluno ao identificar a caixa , identifica-se, mostrando-se nos tracejados, escolhas de desenhso etc.A partir deste primeiro encontro, o pedagogo especialista em Psicopedagogia deve esperar o orientando – seu cliente da sala de recursos - com a caixa no mesmo lugar – lugar escolhido entre ambos - e permite que ele escolha a atividade que quiser a partir dos materiais.Observando / sentindo as ações do cliente, o psicólogo psicopedagógico fará uso dos recursos de intervenção para promover o seu avanço – frente ao ato sentido de Cuidado , isto é, de si e do outro e de si mesmo - em relação às suas dificuldades de aprendizagem.Estes recursos podem ser desde o tipo mais objetivo - como a informação, para aumentar o repertório - até a abstrata interpretação - que analisa a conduta do aprendiz como um todo, utilizando referenciais viscaneanos ou apenas kleineanos, ou existenciais em Rogers, Binswanger, Rúdio, Forghieri etc.A ação do especialista em (Psico)Pedagogia num atendimento psicopedagógico com a Caixa de Trabalho é menos diretiva na escolha da atividade. Ela é entretanto, bastante efetiva através dos recursos interventivos que utiliza.



sexta-feira, 26 de setembro de 2008

È Preciso Parecer Um Pouco Com os Outros Para Compreende-los


Sempre que alguém afirma que dois e dois são quatro e um ignorante lhe responde que dois e dois são seis, surge um terceiro que, em prol da moderação e do diálogo, acaba por concluir que dois e dois são cinco...(José Prat)

domingo, 21 de setembro de 2008

Educar para a vida


Por Pedro J. Bondaczuk
-->A educação é um processo que, se bem-conduzido, produz pessoas íntegras, felizes, equilibradas, com senso de cidadania e de comportamento social aguçados e que determina o sucesso de uma família, de uma comunidade, de uma cidade, de um país e da própria civilização. Porém, quando inadequada, distorcida, inepta e manipulada, tende a se transformar em fonte inesgotável de neuroses, de psicoses, de desajustes de todas as naturezas e espécies, verdadeira “fábrica de monstros”. Não se deve, no entanto, confundir o ato de “educar” com o de meramente “instruir”.Somos, sem exceção, simultaneamente, em momentos diversos das nossas vidas, educandos e educadores. Trata-se de um processo permanente, contínuo, ininterrupto, que vai do berço à tumba. Ou seja, do nascimento até a morte. É tarefa de todos os agentes sociais: família, escola, igreja etc.etc.etc. Estamos, o tempo todo, aprendendo e ensinando, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. E o que aprendemos e o que ensinamos pode ser tanto positivo – ou seja, aqueles conhecimentos que de alguma forma nos formem a personalidade e o caráter, nos corrijam, nos engrandeçam e nos valorizem – quanto negativo – os que nos corrompam, nos degradem e nos tornem nocivos a nós mesmos e a todos os que nos rodeiem.Sei que não estou afirmando nada de novo e, apenas, me limitando a repetir o lugar-comum, o que é do conhecimento geral (até do mais imbecil dos imbecis), o óbvio. Afinal, não sou especialista na matéria (como, ademais, não tenho absolutamente nenhuma especialização, em nada). Infelizmente, todavia, a maioria das pessoas tropeça exatamente nas obviedades. Escorrega naquilo que não se esperava que escorregasse, de tão batido, surrado e divulgado que é.É através da educação que aprendemos tudo, rigorosa e absolutamente tudo, o que o ser humano aprendeu, desde os tempos do nosso mais remoto ancestral das cavernas ao homem contemporâneo (dito moderno), conhecimento este adquirido empiricamente, através de erros e de acertos, e transmitido geração após geração. Este acervo abrange desde a forma de comunicação do grupo em que estamos inseridos (o idioma que falamos) até a história da espécie; desde noções as mais comezinhas de higiene e saúde aos direitos e deveres que temos no convívio com os semelhantes; desde os princípios das artes, à física, química, matemática, biologia, astronomia etc.A não ser os instintos de sobrevivência e de perpetuação da espécie, não nascemos sabendo nada, absolutamente nada. Tudo alguém terá que nos ensinar no momento adequado de nossas vidas. Até mesmo o instintivo, para ser eficaz, terá que ser sistematizado e racionalizado. Ou seja, temos que aprender o que é saudável e o que é nocivo; quais comportamentos expõem nossas vidas a risco e quais são as medidas de segurança que devemos adotar (e em quais circunstâncias) para preservarmos a nossa integridade física. E, quanto à perpetuação da espécie, precisamos de uma correta e eficaz educação sexual, para um relacionamento harmonioso e saudável com a parceira de reprodução.Em contrapartida, tudo o que aprendermos, temos a obrigação de passar adiante, ou seja, de ensinar para alguém, geralmente os filhos que geramos ou que viermos a gerar. A evolução de cada geração depende da competência com que esses conhecimentos forem transmitidos. Se o fizermos com razoável eficácia, estaremos contribuindo para um mundo mais justo, mais humano e mais solidário. Se nos omitirmos, ou não ensinarmos a quem deveríamos ensinar os princípios corretos de conduta que nos foram ensinados, seremos co-responsáveis pela miséria, pelas neuroses, pelas distorções de comportamento (pessoais e/ou sociais), pela violência, criminalidade, guerra etc. que vierem a ocorrer.Uma das principais distorções da atualidade (que sempre existiu, mas que agora se torna mais aguda, dada a exorbitante quantidade de gente no mundo), é o fato de pessoas que não foram convenientemente educadas, terem que educar filhos. Na maioria das vezes, estes são frutos de relacionamentos fortuitos, casuais ou distorcidos e irresponsáveis. São meros “acidentes” (portanto indesejáveis). E os que os geraram e têm a incumbência de os educar, não têm a mínima estrutura, a menor capacidade, a mais remota competência, para isso. Provêem de famílias desestruturadas, ignorantes, violentas. Tendem, portanto, reproduzir em suas vidas a mesma maneira com que foram criados.O que se requer, com crescente ênfase, é menos instrução e mais educação. É menos conhecimentos teóricos e enciclopédicos – a maioria dos quais jamais utilizaremos quando deixarmos a escola com o diploma nas mãos, e de fácil acesso quando houver necessidade – e mais princípios de civilidade, de respeito ao próximo, de responsabilidade pessoal e social, de solidariedade e de justiça. Instruir um indivíduo para formar mão-de-obra especializada para o mercado é importante, mas não essencial. O que promove, de fato, o progresso de um país é a educação para a vida de cada um dos seus habitantes.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sejam Bem Vindos!



Esse blog é um espaço aberto a todos que se interessam por educação.
Espaço aberto para sugestões, críticas e comentário
porque Educação é mais que ensinar é , também, aprender.



"A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tam pouco a sociedade muda." (Paulo Freire)